quarta-feira, 30 de março de 2016

A POESIA DE MARIANA ASPER


FAMINTO
A noite chegou apressada,
no profundo silêncio da aldeia.
A uns metros de distância,
reparo num vulto que por ali vagueia …
Não consegui ver,
nem de imediato perceber,
se era homem ou mulher,
se era cão, se era gato,
com olhos de rato,
ou se era outro bicho qualquer
que ali estava,
à minha chegada,
e o seu rosto tapava …
Oh, meu Deus! Era um homem!
Aproximei-me e o seu olhar,
espelhou uma tristeza,
que não conseguiu esconder …
Nem para mim olhou,
mexia e remexia,
e naquele remexer existia
alguma satisfação …
De mãos gretadas e calejadas,
procurava na escuridão
captar a vida, mesmo que dura,
lhe queimava o coração …
Quando alguma coisa encontrava,
não olhava, não cheirava,
apenas, sofregamente, comia.
O que lhe sobrava, guardava,
na sua sacola como uma esmola …
Contemplo aquele rosto,
de sorriso petrificado. e semblante pesado.
Caíram-me as lágrimas como os galhos da macieira,
ao sentir a dor da criatura, mesmo ali à minha beira …
A noite continuou e o pobre faminto,
fez luz no calor de uma fogueira.
Sentou-se no chão, esperou a manhã,
e o sol à sua beira …
Neste mundo há tanta terra sem flor,
tanto incógnito sem morada e sem nome,
sem pão que lhes tire a fome,
sem sonhos que os bafeje de puro “AMOR"
(protegido)