quinta-feira, 31 de março de 2016

A POESIA ENCANTADORA DE MARIANA ASPER


“PERDI O CANTAR”
Bates forte como as ondas a arrolar em desassossego. Mesmo num dia de sol és tempestade dentro de mim. Perdi a luz, os risos e os carinhos ternos. Nem o vento agreste dispersa as nuvens negras e densas que fazem cama, criando uma barreira intransponível entre mim e o céu. Até ele se esqueceu de mim. 

A onda turva dos meus sentidos cresceu. Oiço vozes, palavras de tristeza e desalento. Uma mistura de sentimentos em reboliço. Remando contra a minha própria maré, esbracejo, tomo fôlego, recolhendo na alma os meus pensamentos. Fixei-me em mim e, para te chamar a atenção, maquilhei o rosto, disfarcei as rugas, mas tu ignoraste os meus traços. Os que marcaram a nossa vida, a nossa história. Oh céus sempre, sonhei que teria um final feliz contigo. As palavras fecham-se nos significados, fundem-se, no silêncio. 
O meu querer já nada te diz e, colhes com indiferença a minha instabilidade. Cantei para ti as loucuras de um delírio. Mataste-me o desejo, com o gemido de um violão insano. Da demência da louca e persistente paixão, o meu corpo recente-se das judiarias da minha impotência perante a dor que me molesta. Tentáculos venenosos fixam-se como lapas no coração, aprisionando-me a mente e o espírito. Como um pássaro na gaiola, perdendo a alegria e o cantar … sou dor em sangue esvaída.
A febre que me arde no peito secou as pétalas do meu sorriso, calou-me as palavras, deu-me o lamento da alma, que sofre o tormento dos desejos insatisfeitos!
20-03-2016